Opinião

ESG no centro do MIPIM de 2023

19/04/2023

ESG no centro do  MIPIM de 2023

Florence Ricou

Insula Capital

Para além de todos os intervenientes, de investidores de todos os tipos a missões governamentais, de projetos imobiliários a planos de desenvolvimento nacionais, de figuras de topo do mundo corporativo a líderes políticos, e da comunidade do imobiliário de mais de 90 países, o principal ator, que ocupou todos os palcos e dominou as conversas da última edição do Mipim foi o tema ESG (Environmental, Social and Governance), tornando-se um fator incontornável para os profissionais do setor imobiliário.

Primeiro. Pela primeira vez, este certame contou com um espaço de cerca de 400m2, dedicado ao programa Road to Net Zero, uma iniciativa que visa ajudar a indústria a acelerar na transição para a descarbonização, e que contou com expositores que estão na linha da frente deste esforço.

Segundo. A magistral palestra de abertura do certame, pelo economista americano Jeremy Rifkin, especialista em transformações económicas e sociais, definiu o tom do evento centrando as questões no ESG e na inevitável entrada numa nova era, sujeita a uma crise ecológica global, que consequentemente afetará cidades e imóveis, que terão de ser renovados e repensados, projetando espaço-físico no espaço-tempo (durabilidade, flexibilidade de uso), adaptando estilos de vida para a nova geração.

Terceiro. Para terminar, os Mipim Awards colocaram a sustentabilidade, em todos os seus aspetos (ambiental, económico e social), no palco central.

ESG e crise ecológica, temas aos quais o setor imobiliário tem um papel fundamental a desempenhar, sabe melhor que muitas outras, que as oportunidades surgem em momentos de crise.

Mais do que nunca, sente-se que as oportunidades estão aí, e no Palais des Festivals sentiu-se uma energia incrível de toda a comunidade para afirmar os compromissos de sustentabilidade, através de imóveis eco-responsáveis com soluções de descarbonizacao, critérios ESG, co-living, habitação a preços acessíveis e respostas aos novos desafios de recursos (água, energia, matérias-primas). Compromissos afirmados com uma combinação poderosa entre uma dinâmica regulatória crescente, impulsos sociais e sobrevivência económica.

Ficou também claro que edifícios que operam em conformidade com critérios ESG, alcançam custos operacionais reduzidos, beneficiarão arrendatários, proprietários, com gastos de capital potencialmente reduzidos. Os edifícios tornar-se-ão mais atraentes para os inquilinos, abrindo margem para retornos mais elevados, que por sua vez, aumentará o valor das propriedades, enquanto aqueles que são ineficientes e pouco atraentes, cairão.

Voltando a Rifkin, “Estamos a testemunhar um salto extraordinário para um novo paradigma económico, embora possamos não o vêr e reconhê-lo amplamente como tal até meados da década de 2040”. Se por agora as notícias não são as mais animadoras, este autor tem uma visão otimista em relação ao futuro, onde para além de um sistema baseado em domínio, exploração em ganho pessoal competitivo, existe a possibilidade de uma sociedade mais gentil e ecológica que valoriza o florescimento mútuo.

Esse paradigma ficou inequívoco e a conclusão que vingou durante o Mipim foi que os objetivos financeiros, ambientais e sociais estão alinhados.

O que falta é eliminar o gap entre ambição e ação, Ou aproveitando um conhecido slogan “Just Do It”.

Fonte: Coluna de Opinião - Público Imobiliário