Opinião

Menos rendimento, menos consumo, menos lojas?

19/12/2023

Menos rendimento, menos consumo, menos lojas?

Mariana Rosa

JLL

Depois do “abalo pandémico”, com quebras nas vendas e no footfall, o imobiliário de retalho tem vindo a recuperar nos seus diferentes formatos.

Emergiu, contudo, uma nova variável: o contexto macroeconómico está muito desafiante, com o aumento crescente da inflação e a subida vertiginosa das taxas de juro a causarem um impacto significativo na economia, reduzindo o rendimento disponível das famílias. Ou seja, depois de parecer ter superado o impacto da pandemia, o retalho enfrenta um novo cenário potencialmente perturbador de consumo, numa fase de profundas mudanças no comportamento dos consumidores, entre os quais se destacam olhar para a compra como experiência e a crescente conectividade entre as lojas físicas e as compras online.

Face a isto, é importante perguntar: a redução do rendimento disponível das famílias trouxe efetivamente menor índice de consumo? E isso afetou os planos dos retalhistas? Ou seja, há menor procura de espaços para abrir lojas?

À data, o consumo privado continua a aumentar e as vendas de retalho também cresceram 2,15% até agosto, com os indicadores de operação dos centros comerciais e retail parks a mostrarem-se estabilizados apesar da redução do poder de compra das famílias. Também os supermercados se adaptaram às novas condições do mercado e aos novos hábitos de consumo, investindo nos serviços de entrega e compra online.

No comércio de rua, quer em Lisboa quer no Porto, as marcas continuam a procurar espaços para se expandirem. No caso de Lisboa, há uma considerável atividade por parte dos retalhistas de restauração, particularmente em áreas mais populares como o Chiado e a Baixa, contando-se várias aberturas este ano. Há também uma crescente procura por parte de retalhistas na área do low-cost – como a Tiger, a Normal, a Ale-Hop, a Pepco, KIK ou Tedi -, daqui esperando-se grande atividade até final do ano. Há também uma tendência de crescimento na abertura de concept-stores, com layouts personalizados e foco na experiência do consumidor. Sem falar nas marcas de luxo, que estão a liderar o crescimento do retalho a nível global. Só nos Estados Unidos, estas insígnias representaram 38% das aberturas de lojas em centros comerciais em 2022 (segundo um relatório da JLL), gerando mais de €70 biliões de vendas.

Portugal tem tido um importante aumento da exposição a marcas de luxo, com mais de 30 retalhistas deste segmento ativos, e tem condições para beneficiar desta onda expansionista. No Porto, o comércio de rua também está com uma vitalidade acrescida, beneficiando muito da renovação de zonas históricas centrais, como o Mercado do Bolhão, ao mesmo tempo que se está a investir bastante em conceitos de retalho nas zonas residenciais, com destaque para a restauração e o bem-estar.

Claro que, nenhuma área da economia sai imune às quebras de rendimento e do poder de compra, mas à data, a tendência de consumo e vendas continua a ser positiva, e a procura por novas lojas também. Mas, se dúvidas houvesse, as rendas mostram que o retalho continua forte, com crescimento nos centros comerciais, retail parks e comércio de rua.

Mariana Rosa

Associada WIRE Portugal / Head of Markets Advisory da JLL

Artigo original Coluna de Opinião WIRE publicada na Vida Imobiliária