Opinião

O 4º Poder e o setor imobiliário

28/09/2023

O 4º Poder e o setor imobiliário

Susana Pascoal

Victória Seguros

O conceito do 4º Poder, atribuído à comunicação social (media), remonta ao sec. XIX e acresce aos poderes ditos tradicionais: legislativo, executivo e judiciário.

É, à data, como o foi, na sua origem, um conceito polémico porque, como qualquer conceito de poder, tem a capacidade de ser utilizado de forma mais, ou menos, responsável. 

No entanto, independentemente da sua utilização, é, a meu ver um poder real e importante, porque que determina a atenção, o foco e a relevância que cada assunto assume junto de um publico alargado, conduzindo muitas vezes à geração de opiniões.

E, a meu ver, não há dúvidas que a aplicação deste poder ao setor da construção e imobiliário, tem sido, nestes últimos anos, uma realidade.

As notícias do setor imobiliário (promoção, construção, mediação, etc.) têm estado, como nunca, na front- row de noticiários e debates televisivos, em todos os jornais e revistas: com notícias, entrevistas, podcasts, na rádio, enfim, em todo o lado.

E hoje, fruto dessa exposição, temos todos uma noção (mais ou menos clara), de que existe um problema com a habitação:  falta de oferta, impossibilidade de construir casas acessíveis (para os portugueses), excesso de tributação e uma miríade de outros fatores que influenciam e contribuem para este tema… Ou problema.

Coincidências ou não (há quem diga que não existem), surge por parte do governo o Pacote Mais Habitação, amplamente escrutinado em todos os meios sociais e quiçá, o mais conhecido da opinião pública.

E para tal muito tem contribuído o espaço ocupado nos media, dando voz a vários interlocutores que têm vindo a publico defender os seus pontos de vista quanto a este pacote – membros do governo, players do setor, comentadores, jornalistas, economistas, advogados, etc.

E, inevitavelmente, este pressing – este poder – tem surtido o seu efeito. Certo é que o referido pacote tem vindo a sofrer alterações (o que é normal), mas menos habitual tem sido a exposição pública de cada alteração proposta/aceite e a demora na sua aplicabilidade, culminando no seu veto por parte do Presidente da República, que em muito contribuiu para aumentar a exposição da sociedade ao tema. 

E seria possível este tema ter tanto impacto, ter ido tão longe, sem a intervenção do 4º poder?

Sem a capacidade de levar informação (sem ajuizar a sua qualidade) a um público tão alargado, sem a exposição dada ao setor, sem a contínua discussão, sem o alimentar deste “fogo” por parte dos media? 

Talvez, mas eu diria que teria sido/seria muito mais difícil.

Artigo original publicado no Público Imobiliário