Opinião

Os desafios da habitação

20/10/2022

Os desafios da habitação

Ana Gomes

Cushman & Wakefield

Ao provocar o aumento dos preços da habitação, o impacto da inflação na promoção residencial não é positivo pois, inevitavelmente, limita ainda mais a oferta de habitação, em particular para a classe média.

Os maiores custos de promoção conjugados com prazos longos de licenciamento e elevada carga fiscal – fatores que os promotores não conseguem controlar – aumentam significativamente o risco e esmagam margens, dificultando a promoção de projetos com valores de saída mais baixos, nomeadamente os projetos para o segmento médio.

Se a inflação continuar elevada, o acesso da classe média e média baixa à compra de casa própria vai se tornar cada vez mais difícil. Como a oferta é muito inferior à procura e como os custos são sempre refletidos no valor final dos empreendimentos, os preços vão continuar a subir. Em paralelo, o comprador do segmento médio vai sentir maior insegurança com a compra de casa porque não sabe que condições vai conseguir junto do banco para a obtenção de crédito e não sabe qual o impacto da inflação nos seus rendimentos não sabendo, portanto, se terá condições para cumprir com os seus compromissos.

A aposta no mercado de arrendamento residencial seria uma excelente alternativa para superar esta adversidade. Porém, é imperativo ultrapassar os obstáculos para que os projetos de arrendamento acessível possam arrancar. É fundamental criar incentivos para os promotores se focarem neste segmento (como seja a majoração dos índices ou a redução do IVA) e agilizar a burocracia associada para que os projetos avancem rapidamente e sejam criadas soluções para as famílias.