Porque ainda não usamos a metodologia BIM no mundo da arquitetura, engenharia e construção?

O mundo AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) tem de estar na era BIM (Building Information Modeling), e agora!  Somos o último país da Europa onde o BIM não é obrigatório nas entidades públicas. Estamos atrasados, mas temos a oportunidade de abraçar esta metodologia e, em conjunto, construir mais e melhor.

Ao analisar toda a metodologia BIM e as suas mais valias, uma das que considero mais importantes, diria mesmo, fundamental, é a qualidade do serviço que os técnicos entregam a um cliente. O BIM permite que os técnicos se foquem no seu trabalho e usem as ferramentas para entregarem melhorias pois segundo o estudo da McKinsey “The construction productivity imperative”:

• 98% dos projetos incorrem em aumento de custos ou atrasos;
• O aumento médio de custo é de 80% do valor original;
• O atraso médio nas obras, é de 20 meses em relação ao cronograma original.

Neste último ponto, sabemos que em Portugal o atraso médio das obras em relação ao planeado, é sempre bem maior do que é o inicialmente previsto.

O BIM melhora assim, a eficiência, reduz erros e melhora a comunicação - todos fatores vitais no mundo da construção. Permite fornecer ao cliente rigor técnico no levantamento realizado de um edifício ou terreno existente, usando a nuvem de pontos, retirando a informação que necessita, sem existir a falha humana; fornece a perceção rápida, em 3D do que existe e do que está a ser proposto. Ajuda a detetar situações de não conformidade como por exemplo numa cércea ou pé-direito ou mesmo implantação, sendo logo detetada com exatidão.

Depois do Covid, todos entendemos a importância das ferramentas colaborativas. Este sistema permite que vários técnicos estejam a trabalhar no mesmo modelo, ao mesmo tempo e interligados, a fazer acontecer o que se pretende, construir ou idealizar.

Os modelos BIM também possibilitam um planeamento e coordenação de construção mais precisos, resultando em um produto final de maior qualidade, podendo ser usado para garantir que todos os componentes e sistemas de construção atendam aos padrões requeridos, permitindo identificar potenciais riscos à segurança e reduzir o risco de acidentes durante a construção. 

Construir de forma sustentável é possível aos dias de hoje. A integração da sustentabilidade, certificações e formas de redução do impacto no meio ambiente é possível e eficaz usando a metodologia BIM.

Todos sabemos dos problemas que temos na habitação em Portugal. Se podermos reduzir a escassez de mão de obra numa construção e passar a ser uma indústria de construção, onde toda a obra é pensada e planeada em BIM, com o controle de qualidade muito fiável, redução de prazos, porque só poucas empresas em Portugal o fazem?

Temos de usar a tecnologia e o conhecimento ao nosso favor. Existem muitos casos de sucesso em Portugal. Podemos construir mais, melhor, de forma sustentável e segura se trabalharmos desta forma. Porque ainda não o fazemos? 

Artigo original publicado no Público Imobiliário