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Casas de luxo: “Há portugueses às compras e interessados em projetos”
“Portugal está na ‘pole position’ para se destacar no segmento”
27/01/2025

Resiliência é palavra de ordem no segmento residencial de luxo nacional, que tem escapado entre os pingos da chuva à crise na habitação que se faz sentir em Portugal. O interesse dos investidores estrangeiros neste nicho de mercado não é recente e mantém-se intenso, mas são também muitos os portugueses que piscam o olho às casas de luxo. “Ao contrário do que muita gente pensa, não são só os estrangeiros que estão a comprar casas com valores mais altos. Há portugueses a fazer essas compras e muito interessados em conhecer os projetos preparados para sair da gaveta”, revela ao idealista/news Patrícia Barão, Partner Residential Dils Portugal.
Os mais de 20 anos de experiência a trabalhar no setor imobiliário em Portugal permitem a Patrícia Barão ter uma visão abrangente sobre o mercado residencial, nomeadamente o relacionado com o segmento alto/premium. Olhando para o retrovisor e antecipando o futuro diz, sem rodeios, que os estrangeiros continuam a olhar “para Portugal como um destino de eleição”. “Sinto que se apaixonam pelo país, e a verdade é que ele é apaixonante”, afirma, enaltecendo, por exemplo, o facto das pessoas serem hospitaleiras e do país ser seguro e “oferecer paisagens e imobiliário de altíssima qualidade”.
Nesse sentido, adianta, “Portugal está na ‘pole position’ para se destacar largamente no segmento de luxo”. “A verdade é que somos um país incrível e que temos todas as características para trabalhar muito bem este segmento e oferecer aquilo que fazemos de melhor, que é um imobiliário de imensa qualidade e com características únicas. Acredito que Portugal vai continuar a ser um destino escolhido não só pelos estrangeiros que procuram este imobiliário especial, mas também pelos portugueses, que compram muitas casas, apartamentos e moradias neste segmento”, acrescenta.
Estabilidade, nomeadamente legislativa e fiscal, é, no entanto, crucial para manter Portugal atrativo para os investidores estrangeiros. Bem como apostar na qualificação das infraestruturas, alerta a responsável: “Precisamos de ter algum incentivo para que os estrangeiros continuem a olhar para nós como destino atrativo. Não basta só sermos um país hospitaleiro, termos um clima ameno e sermos um país seguro. Também temos de ser capazes de responder com outras situações. Temos o aeroporto completamente saturado: uma pessoa que investe neste segmento aterra em Lisboa e não pode estar três ou quatro horas para passar na alfândega. Temos de arranjar outras soluções para que estes clientes possam sentir-se bem no país em todas as infraestruturas que proporcionamos”.
Fomosos têm Portugal na mira
São muitas as celebridades mundiais e das mais variadas áreas que investiram em imobiliário em Portugal nos últimos anos, e algumas para viver. E o caso de John Malkovich, Monica Belluci, Michael Fassbender, Eric Cantona, Christian Louboutin e George Clooney, entre outros. E também Madonna se rendeu aos encantos do país.
Será que este é um interesse que continua a existir e que a tendência se mantém? “Sempre tivemos celebridades a escolher Portugal para viver ou para ter uma segunda casa e temos vindo a ver que continuam a chegar a Portugal pessoas muito conhecidas do mundo do cinema, do desporto, etc. A verdade é que escolhem Portugal para ter uma casa de férias, uma casa na Europa, muitos deles”, comenta Patrícia Barão, abrindo a porta à chegada de mais famosos.
"Muitas das celebridades chegam [a Portugal] e apaixonam-se. Gostam, sentem-se bem, seguras, valorizam a qualidade de vida que o país oferece. Muitas conseguem sentir até alguma tranquilidade, porque não somos invasivos naquilo que é o espaço destas pessoas, e isso é muito valorizado por estas individualidades. Prezam muito aquilo que é a confidencialidade da sua vida" Refere Patrícia Barão
Um interesse que acontece por alguma razão: “Tem muito a ver com a imagem de Portugal. Ganhámos recentemente, por exemplo, o prémio do melhor campo de golfe do mundo [Dunas Golf Course, integrado no projeto Terras da Comporta da Vanguard Properties]. Quando há uma notícia destas é natural que as pessoas que estão noutras geografias comecem a ouvir falar de Portugal ou a ter alguma curiosidade sobre o país. E a verdade é que muitas destas celebridades chegam e apaixonam-se. Gostam, sentem-se bem, seguras, valorizam a qualidade de vida que oferece. Muitas conseguem sentir em Portugal até alguma tranquilidade, porque não somos invasivos naquilo que é o espaço destas pessoas, e isso é muito valorizado por estas individualidades. Prezam muito aquilo que é a confidencialidade da sua vida”.
Imobiliário de luxo Vs crise na habitação. E agora?
Se é verdade que o segmento residencial de luxo continua a atrair investidores, estrangeiros e nacionais, também é verdade que há falta de oferta de casas para a chamada classe média. Será, então, que é possível os “dois mundos” conviverem e dar resposta às necessidades existentes e à crise na habitação?
“O segmento de luxo, o segmento do mercado médio-alto e alto, tem o próprio nicho, os próprios canais, a própria oferta. Naturalmente, acaba por ser um produto que tem por trás alguma escassez. São sempre imóveis quase pensados peça a peça, para um cliente muito especial. E este é um ‘target’ que está a ter cada vez maior dinamismo”, sublinha Patrícia Barão.
"Não basta só sermos capazes de construir as centenas de casas que os portugueses precisam. Há toda uma visão que é preciso ter do imobiliário e que tem de ser pensada agora, para que daqui a dez anos possamos olhar para trás e dizer que tomámos as medidas certas e que temos uma habitação sem crises"
Cenário diferente vive-se no segmento direcionado para a classe média, onde há ainda um logo caminho a percorrer, avisa a responsável. “Temos de ser capazes de trazer habitação para os portugueses a preços que possam pagar. Temos de ser capazes de trabalhar nos vários cenários. Isto é que é olhar para o imobiliário de forma transversal, de forma holística. Sabemos que para trabalhar um projeto com alguma escala na periferia da cidade não é só construir casas, é preciso criar uma rede de transportes para que estas pessoas que trabalham nos centros urbanos se possam deslocar”.
É fundamental “garantir que as pessoas tenham alguma qualidade de vida e que não demoram duas horas a chegar ao local de trabalho”, frisa Patrícia Barão. “Não basta só sermos capazes de construir as centenas e centenas de casas que os portugueses precisam. Há toda uma visão que é preciso ter do imobiliário e que tem de ser pensada agora, hoje, para que daqui a dez anos possamos olhar para trás e dizer que tomámos as medidas certas e que temos uma habitação sem crises”, remata.
Artigo original publicado no Idealista