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Empresas apostam mais em áreas de lazer para atrair trabalhadores para os seus escritórios
Áreas de convívio nos edifícios empresariais estão a crescer para tentar atrair mais trabalhadores
14/01/2025

O modelo de trabalho híbrido, em que os trabalhadores repartem os dias de semana entre o escritório e a casa, é o preferido por cada vez mais organizações. Esta situação leva a que as empresas procurem escritórios que sejam adaptáveis e flexíveis e permitam a partilha do espaço, bem localizados e que integrem inovação e sustentabilidade. E a aposta passa também por aumentar as áreas sociais e de lazer, de forma a atrair os funcionários. Na opinião de Carlos Góis, administrador da Geo Investimentos, “os escritórios mudaram radicalmente e deixaram de ser apenas espaços para trabalhar”.
A partir de agora, refere, “os espaços têm de ser muito confortáveis, mais à imagem de um hotel do que de um escritório”, sendo que “as áreas de lounge (áreas de estar), de refeições e de lazer aumentaram imenso, chegando a atingir mais de 30% da área total do escritório”, como acontece com um dos edifícios renovados recentemente na Rua de Santa Catarina, no Porto, ocupado por três multinacionais. Este edifício tem um “ginásio completo, duches em todos os escritórios, salas de massagem, salas de reflexão, biblioteca, jardins interiores, zonas de jogos, terraços com barbecues e até uma food truck (carrinha de comida), para beber umas cervejas ao fim do dia, e um wine bar equipado para fazer umas provas de vinho”.
O gestor destaca que “as cadeiras são ergonómicas e a maioria das mesas de trabalho são elevatórias e motorizadas, para aumentar o conforto dos trabalhadores, e todos os aspetos foram pensados para o máximo conforto dos utilizadores”.
Na sua opinião, “a ideia é que os colaboradores gostem do espaço, queiram vir trabalhar e vejam o escritório como a sua segunda casa”. A aposta passa também pela qualidade dos sistemas de ventilação, acústica, iluminação e sustentabilidade dos edifícios. E as empresas pedem certificações que atestem essas características, refere ainda o empresário.
A opinião é partilhada por outros profissionais de consultoria e mediação imobiliária, que confirmam que existe uma pressão crescente para o regresso físico ao local de trabalho, motivada pela necessidade de reforçar a cultura das organizações, aumentar a produtividade e estimular a colaboração.
Esta situação é visível no crescimento das áreas de arrendamento de escritórios em Lisboa e Porto, que entre janeiro e novembro último aumentaram 87% face ao mesmo período de 2023, representando 259.100 metros quadrados, de acordo com os dados mais recentes do estudo “Office Flashpoint”, da consultora JLL.
Infraestruturas premium
A procura de escritórios por parte das empresas está cada vez mais centrada na experiência dos utilizadores e no seu bem-estar, o que implica criar espaços com luz natural, áreas colaborativas e outras de relaxamento.
Assim, “existe uma clara aposta em espaços modernos e bem localizados, que oferecem infraestruturas premium, como ginásios, áreas de apoio, terraços e zonas verdes”, explica Pedro Salema Garção, responsável pelo departamento de escritórios da consultora Cushman & Wakefield.
Além disso, “as organizações procuram edifícios certificados do ponto de vista ESG (governança ambiental, social e corporativa)”, ou seja, reforçando o compromisso nas componentes ambiental e social. Na opinião de Pedro Salema Garção, a retoma económica e o regresso ao escritório impulsionam estas tendências, e agora a aposta passa pela “qualidade dos espaços e a flexibilidade na ocupação”.
Andrea Ferreira, diretora de operações do grupo Violas Ferreira, realça que as “empresas estão a priorizar espaços flexíveis, adaptáveis às necessidades organizacionais e com ênfase no bem-estar dos trabalhadores”. Uma aposta que passa pela boa localização dos espaços, preferência por “edifícios reabilitados” e pela “sustentabilidade, diversidade, equidade e inclusão no design e gestão dos espaços”.
O bem-estar dos funcionários
Segundo Alexandre Fernandes, diretor-executivo da Sonae Sierra, “com a adoção crescente de modelos de trabalho híbrido, as empresas procuram espaços adaptáveis, que promovam a produtividade e o bem-estar dos colaboradores”. As organizações estão focadas em encontrar “um equilíbrio entre espaços exclusivos e partilhados, ajustados às suas necessidades específicas e à natureza das suas operações”.
Esta abordagem é agora “fundamental tanto na conceção como na gestão de edifícios” e tem que responder “às crescentes exigências de eficiência energética e redução da pegada ecológica, além de antecipar as necessidades futuras das empresas, que valorizam cada vez mais o impacto social e ambiental”.
Assim, as soluções que as empresas procuram têm de integrar “inovação, sustentabilidade e flexibilidade”, sendo que a “localização e os serviços complementares” são também fatores decisivos na escolha de novos espaços de trabalho. É por isso que “edifícios com acessibilidade privilegiada, proximidade de transportes públicos e áreas verdes se destacam no mercado”, refere Alexandre Fernandes.
Dados recentes indicam que cerca de 70% das organizações a nível global já adotaram modelos híbridos, o que tem levado muitas a reconfigurar os seus espaços de trabalho para criar ambientes mais colaborativos, flexíveis e alinhados com as novas dinâmicas de trabalho. Esta mudança reflete uma valorização crescente dos escritórios como centros de interação, criatividade e promoção da cultura organizacional das empresas.
Áreas partilhadas e exclusivas
De acordo com Pedro Salema Garção, há uma procura crescente por soluções que combinem espaços partilhados e exclusivos. Os “flex offices, operados por empresas especializadas, têm ganho relevância devido à sua flexibilidade, permitindo que as organizações ajustem a ocupação conforme as suas necessidades”, vinca. No entanto, frisa que “os espaços exclusivos continuam a ser fundamentais para empresas que valorizam privacidade, identidade corporativa e personalização dos locais de trabalho”.
Nas maiores cidades, como Lisboa e Porto, em edifícios de maiores dimensões, coexistem ambos os formatos: “áreas flexíveis geridas por operadores e escritórios exclusivos para ocupantes principais”, aponta.
Andrea Ferreira sublinha o facto de no Porto o mercado de coworking (espaços partilhados por várias empresas) estar a crescer rapidamente. Contudo, admite que “os escritórios exclusivos ainda dominam o mercado principal, especialmente em zonas como a Boavista e a Baixa da cidade”.
O grupo Violas Ferreira está a concluir um projeto de escritórios, o edifício Pharmacia, que se evidencia pela reabilitação de um edifício histórico localizado no coração da cidade e que será em breve a nova sede da Euronext na cidade do Porto.
"Os espaços têm de ser muito confortáveis, mais à imagem de um hotel do que de um escritório”
Carlos Góis
Administrador da Geo Investimentos
“As empresas estão a priorizar espaços flexíveis, adaptáveis às necessidades organizacionais e com ênfase no bem-estar dos trabalhadores”
Andrea Ferreira
Diretora de operações da Violas Ferreira
“Com a adoção crescente de modelos de trabalho híbrido, as empresas procuram espaços adaptáveis, que promovam a produtividade e o bem-estar dos colaboradores”
Alexandre Fernandes
Diretor-executivo da Sonae Sierra
Elisabete Soares Jornalista | Artigo original publicado no Expresso